quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

A História do iPhone

A revista Wired publicou em 9 de janeiro um artigo chamado “A História que não foi contada: Como o iPhone explodiu a indústria de telefones sem fio“. É um texto longo, que conta como o iPhone foi pensado, como foi projetado, como foi a negociação com as operadoras de telefonia e como o aparelho alterou os padrões da indústria. Abaixo, a tradução do trecho inicial, que faz uma espécie de resumo do artigo.“O protótipo não estava bom. Era uma manhã do outono de 2006. Quase um ano iphone2.jpgantes, Steve Jobs havia dado a uns 200 dos melhores engenheiros da Apple a incumbência de criar o iPhone. Entretanto, naquela sala de reuniões da Apple, era evidente que o protótipo era um desastre; não é que houvesse bugs, o fato é que o aparelho não funcionava. As chamadas caíam freqüentemente, a carga da bateria não se completava, dados e aplicativos se corrompiam e tornavam inúteis. No final da reunião, Jobs olhou seus engenheiros e afirmou: Ainda não temos um produto.
O iPhone deveria ser o astro da convenção anual MacWorld, que ocorreria em alguns meses. Desde que retornou à Apple em 1997, Jobs utilizava a convenção para apresentar os novos produtos da empresa, e os observadores da Apple esperavam outro anúncio de impacto. Jobs já avisara que o Leopard, novo sistema operacional da Apple, estava atrasado. Se o iPhone não ficasse pronto, o MacWorld seria um fracasso, os críticos cairiam em cima, e as ações da empresa sofreriam um abalo.
E o que pensaria a AT&T? Após um ano e meio de encontros secretos, Jobs afinal conseguira um acordo com Cingular, a divisão de telefonia sem fio da AT&T, para ser a operadora exclusiva do iPhone. Jobs daria cinco anos de exclusividade à AT&T, dez por cento das receitas das vendas do iPhone nas lojas AT&T, e mais uma pequena parte das receitas das lojas iTunes; em troca, a AT&T daria a Jobs um montante sem precedente de poderes. Jobs convenceu a AT&T a investir milhões de dólares e milhares de homem-hora para criar uma nova facilidade, chamada voicemail visual, e também reinventar o burocrático processo de contratação de linha telefônica. Ele também conseguiu assinar um modelo inédito de divisão de receitas, ficando com aproximadamente US$ 10 por mês de cada conta de usuário de iPhone. Além disso, Jobs teve ampla liberdade com respeito ao projeto, produção e marketing do aparelho. Jobs conseguira o impensável: arrancar um bom negócio de um dos maiores players do negócio de telefonia móvel. Agora, o mínimo que ele tinha que fazer era cumprir seus prazos.
Nos três meses seguintes, o pessoal do projeto iPhone trabalhou como doido; apenas algumas semanas antes do MacWorld, Jobs tinha um protótipo para apresentar aos executivos da AT&T. Em meados de dezembro de 2006, ele encontrou o chefão da telefonia celular Stan Sigman em um quarto do hotel Four Seasons. Ele mostrou a ele a tela brilhante do iPhone, o poderoso navegador de internet, o design atrativo. Sigman, um circunspecto texano, de aspecto conservador como a maioria dos executivos de telecomunicações, mostrou-se efusivo, referindo-se ao iPhone como “o melhor aparelho que eu já vi” (detalhes desse e outros encontros foram narrados por pessoas que presenciaram os eventos; a Apple e a ATT não comentam nem sempre os encontros nem sobre outros termos de seu relacionamento).
Seis meses mais tarde, em 29 de junho de 2007, o iPhone estava à venda. Analistas estimam que até o final de 2007, o aparelho venderia 3 milhões de unidades, tornando-o o smartphone de maior sucesso em todos os tempos. É também, provavelmente, o produto mais lucrativo na história da Apple. A Apple lucra aproximadamente US$ 80 na venda de cada aparelho por US$ 399, sem contar os US$ 240 ganhos em cada contrato de dois anos que o usuário assina com a ATT. Por outro lado, aproximadamente 40% dos contratantes de iPhone são novos clientes para a ATT, e esses novos usuários têm triplicado o tráfego da operadora em grandes cidades, como Nova York e São Francisco.
Mas, tão importante quanto o impacto nos negócios da Apple e ATT, é o impacto real na estrutura de US$ 11 bilhões das comunicações de celulares nos Estados Unidos. Por décadas, as operadoras têm tratado os usuários como servos, usando o acesso a suas redes como barreiras para ditar quais aparelhos seriam produzidos, quanto eles custariam, que facilidades ofereceriam. Os aparelhos eram vistos como produtos baratos e descartáveis, altamente subsidiados, usados para atrair assinantes e obrigá-los a utilizar os serviços da operadora.
O iPhone alterou o equilíbrio de poderes. Operadoras estão aprendendo que o aparelho correto - ainda que caro - pode atrair usuários e gerar receitas. Agora, buscando um contrato similar ao da Apple, todos os fabricantes estão pensando em criar um aparelho de que os usuários gostem, em vez de um que as operadoras aprovem. O iPhone já está mudando o comportamento das operadoras e dos usuários, diz um analista da Piper Jaffray.